Um aniversário de luxo e que venham mais 50
Lunes, 3 de diciembre de 2012
Impossível deixar de registrar por aqui o espetáculo do qual tive a alegria de acompanhar de perto na última sexta-feira no Theatro São Pedro, em Porto Alegre: os 50 Anos de Música de Luiz Carlos Borges. Muito já se falou sobre este artista – compositor, acordeonista, cantor, guitarrero e embaixador cultural – aqui na RBS TV e no programa Galpão Crioulo. E não poderia ser diferente: Borges é, sem dúvida, um dos maiores artistas que esse estado já produziu.
por Shana Muller
Mas quero lhes contar um pouco desta comemoração pela parte dos bastidores. Afinal, fui uma das últimas a subir a palco e não pude presenciar como público este show.
Foram quase três horas de espetáculo, com muitos convidados, que desfilaram pelo palco sagrado do Theatro mais importante do estado, seu carinho e respeito pela obra de Borges.
50 anos de música! Quantos artistas no país e no mundo podem encher a boca para comemorar esta passagem de tempo? E mais que isso: quantos artistas construíram uma história retilínea pela arte e pela música e nada mais que isso?
No domingo, nos reunimos na casa do amigo, cantor e compositor Vinicius Brum, compadre do “Véio” (como carinhosamente alguns de nós o chamamos) e o assunto não foi outro.
O riso estava estampado em todos nós e principalmente nele que expressava a satisfação de uma comemoração sem retoques.
Cada um que subiu ao palco representa um momento importante na vida de Borges e cada um tem dele em sua vida uma parte muito importante de contribuição, seja nas oportunidades, na amizade ou mesmo na sua maneira de pensar a arte regional.
Luiz Carlos Borges nunca teve medo de oportunizar o espaço para os mais novos, tampouco de misturar sua música com quem quer que fosse. Sempre a música foi e segue sendo sua prioridade. Afinal quem sabe quem é não tem medo de se permitir experimentar, e isso eu já disse aqui.
Novos e consagrados intrumentistas por lá passaram: Samuca, Luciano maia, Arthur Bonilla, Renato Borghetti, o bateirista e genro Diogo Gameiro, num lindo solo com o acordeom; Yamandu Costa e sua esposa Elody com um belíssimo arranjo para Suite para Ana Terra, o argentino e referência do violão no país vizinho Juan Falú que emocionou o público. Cantores dos mais variados estilos: Humberto Gessinger com sua harmônica dando ao Encontro com a Milonga um ar assim havaiano e ao mesmo tempo muito gaúcho; Pirisca Grecco e Tio Euclides, a dupla César Oliveira e Rogério Melo com muito vanerão no sangue, uma nova e talentosa cantora que Borges lançou nesta noite, Maria Cláudia e que “quebrou o vidro de muitos olhos” e o amigo e parceiro de tantas obras, Mauro Ferreira nos brindando com seus versos.
Falar da minha emoção seria repetir-me. “Na beira do Aguapey”, parceria com João Sampaio talvez seja um dos chamamés que mais escutei em minha vida. Está em mim e quando estou ao lado do “Véio” no palco para cantá-la volto a minha posição de fã. A perna sempre treme e somos tomados por algo maior que nossa amizade e respeito: a vontade de fazer música juntos. Aliás tem sido esse o maior aprendizado a seu lado nesses mais de 10 anos de amizade: nunca perder o encantamento da música antes de tudo.
Assim é Luiz Carlos Borges. Nos emocionando e dividindo o palco com esse rol de diferentes artistas que ali estiveram para homenagear sua história. Esse foi o clima nos camarins e essa foi a mensagem doce que ficou ao final quando todos cantamos juntos o Hino Rio Grandense com um Theatro super lotado em pé!
Me aproprio de um comentário do Vinicius Brum durante o Galpão especial que fizemos com o Borges, citando Barbosa Lessa e a sua constatação de que era preciso construir um cancioneiro gaúcho. Luiz Carlos Borges é, indiscutivelmente, um dos principais protagonistas desse construir. Sua obra está aí e 50 anos depois de seus primeiros bailes ao lado dos irmãos permanece irretocável. Espero que as gerações de músicos e compositores que vêm surgindo no cenário regional sirvam-se sempre de sua obra para entender esse universo do sul do país.
Como disseram Pirisca e Humberto: mantenhamos nossas saúdes para poder comemorar contigo os próximos 50 anos de música, Véio! Parabéns!
Ah e ainda sem tempo: pra mim que não pude ver da plateia e pra quem não conseguiu ingresso para assistir basta aguardar. Em breve um DVD, sirigido pelo talentoso Rene Goya e sua Estação Elétrica vai te oportunizar emocionar-te em casa! É só esperar.